O episódio da proibição da publicação de uma foto no jornal venezuelano “El Nacional” causou inúmeras discussões mundo afora. Entretanto, esse fato está longe de ser o primeiro choque entre o presidente Hugo Chávez e os grandes grupos da mídia na Venezuela.
Jornal "El Nacional" após a proibição da foto que mostrava um necrotério superlotado em Caracas, com mais de um corpo por maca e corpos pelo chão. Fonte: Efe
Desde a sua eleição em 1998, Chávez e a sua Revolução Bolivariana pregaram melhorias sociais. Uma delas, a redistribuição dos lucros da fortíssima petroleira venezuelana PDVSA para as camadas mais desfavorecidas, provocou reações de setores da sociedade do país.
O apogeu desse conflito ocorreu no ano de 2002. Em 11 de abril, um golpe de estado derrubou e prendeu Chávez, colocando no poder o presidente da federação das indústrias, Pedro Carmona Estanga. Foram acusados de estar por trás do golpe os líderes dos grandes grupos midiáticos: Gustavo Cisneros (Venevisión), Alberto Frederico Ravel (Globovisión), Victor Ferrer (Televen) e Marcel Granier (RCTV).
Uma das provas do envolvimento do empresariado midiático no golpe, além da própria exibição de mensagens convocando a população a uma marcha anti-Chávez, veio do apresentador do canal Venevisión, Napoleón Bravo, que chegou a conduzir uma comemoração ao vivo pela deposição do presidente. Entretanto, o golpe só durou mais dois dias: em 13 de abril Chávez foi reconduzido ao poder.
Em 2005, foi promulgada a Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão. Tal lei estabeleceu uma série de novas regras para a mídia venezuelana. Dois anos mais tarde, por violar dispositivos legais como a própria lei de responsabilidade, o canal RCTV teve a sua concessão não renovada pelo governo, e saiu do ar em TV aberta. Porém, as transmissões passaram a ser a cabo com sinal vindo de Miami. Mas esse não foi o fim dos choques com o governo.
Funcionária da RCTV chora após o canal sair do ar. Fonte: Efe
Em 23 de janeiro desse ano, a RCTV e outros seis canais foram tirados do ar na TV a cabo por descumprirem regras como transmissão de conteúdos nacionais, discursos oficiais, entre outros dispositivos legais. Os canais que se retificaram voltaram ao ar.
Recentemente, é a Globovisión que aparece como maior inimiga do governo Chávez. Em 3 de agosto de 2009, a sede do canal foi atacada por indivíduos armados que soltaram duas bombas de gás lacrimogêneo e feriram três pessoas. A emissora acusou prontamente o governo de estar por trás do ataque. A líder do movimento contra a Globovisión teve a sua prisão anunciada no dia seguinte.
Em 25 de março desse ano, o presidente da Globovisión, Guillermo Zuloaga, foi preso acusado de ofender Chávez e divulgar falsas informações na reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa. Zuloaga e Chávez são inimigos de longa data: o presidente venezuelano já acusou o rival de causar “terrorismo midiático” e chamou-o de “mafioso”.
O editor do site
Opera Mundi, Breno Altman, ressaltou em entrevista ao
Pero que “vários desses canais (que não tiveram sua concessão renovada) estavam infringindo não apenas a legislação de comunicação, mas também a legislação fiscal, ou seja, existia um problema de não pagamento de imposto,etc”. Além disso, segundo Breno, jornais que atacavam Chávez há dez anos continuam circulando e atacando-o, assim como entre as emissoras que faziam oposição, apenas a RCTV deixou o ar. E revelou mais uma informação interessante. “Nos EUA se cassa um número muito maior de emissoras de rádio e televisão do que na Venezuela. Porque essas emissoras violam a lei”, finalizou.