quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Música sem fronteiras

Por Ana Carolina Costa e Kelly De Conti


As fronteiras entre o Brasil e alguns de seus países vizinhos estão bem demarcadas, mas apenas se limitarmos essa visão ao aspecto geográfico. Um dos exemplos mais nítidos de proximidade e quebra de fronteiras fica por conta de elementos culturais. A música, em especial, vive um momento de integração entre o estado brasileiro do Rio Grande do Sul e os países platinos Argentina e Uruguai.

Entre os principais responsáveis por essa conexão entre as músicas de tais locais estão os brasileiros Vitor Ramil e Marcelo Delacroix, os irmãos uruguaios Jorge e Daniel Drexler e o argentino Kevin Johansen. A cantora e compositora uruguaia Ana Prada também é um nome forte. Outro movimento de aproximação ocorreu com a formação do grupo Surdomudo Imposible Orchestra, idealizado pelo brasileiro Arthur de Faria e pelo argentino Carlos Villalba.

O Templadismo, nome criado pelos irmãos Drexler para designar o vínculo entre os artistas da região, quebra as fronteiras territoriais e estabelece relações entre os temas das letras e o ritmo das canções. No texto abaixo, há a trajetória desses artistas e as características das músicas, além de algumas indicações selecionadas pelo Diferente, Pero no Mucho.

A equipe do Pero também entrevistou a doutora em Comunicação e Informação Vera Raddatz, que tem como um dos focos de sua pesquisa a identidade cultural em regiões fronteiriças. Ela falou sobre a música dos pampas e a relação desta com os habitantes da região. A forma curiosa como os veículos de comunicação transmitem o intercâmbio cultural também foi tema da entrevista com a pesquisadora gaúcha. Clique aqui para ouvir.


Personagens do Templadismo

Vitor Ramil

Com pouco mais de 30 anos de carreira, Vitor Ramil é um dos principais nomes da música gaúcha. Sua trajetória, iniciada aos 18 anos de idade, foi marcada por trabalhos ricos em termos de experimentação musical e composição. Em 1997, ao lançar o CD “Ramilonga – A estética do frio”, inaugurou as sete cidades da milonga (ritmo presente no Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai): Rigor, Profundidade, Clareza, Concisão, Pureza, Leveza e Melancolia. Percorrendo o imaginário regional gaúcho e o espaço urbano do estado, alcançou uma contundência e originalidade musical que elevariam esse trabalho como o marco zero de sua carreira artística. Era o resultado de um projeto iniciado quatro anos antes, quando lançou o artigo “A estética do frio” em uma coletânea chamada “Nós, os gaúchos”, publicada pela Editora da UFRGS. O trabalho seguinte, “Tambong”, gravado na Argentina, trouxe à tona as combinações da musicalidade e poesia brasileiras combinadas com as dos países do Prata (Argentina e Uruguai). No final de 2004, Vitor Ramil lançou o livro “A estética do frio – Conferência de Genebra”, resultado da palestra apresentada na cidade suíça em 2003. As ideias contidas na publicação ganharam repercussão no Brasil e em seus vizinhos platinos. Hoje, Vitor Ramil trabalha em parceria com os irmãos Jorge e Daniel Drexler na tentativa de consolidar o movimento de intercâmbio musical na região.

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=JP5zTlLZ4os


Jorge e Daniel Drexler

Vindos de uma família de músicos, os irmãos Drexler, nascidos em Montevidéu, buscam reunir artistas da região e estabelecer um vínculo entre a paisagem platina, a temática das letras e o tom melancólico das canções. Jorge (na foto à esquerda), em 2005, ganhou o Oscar de melhor trilha sonora pela música “Al otro lado del rio”, do filme Diários de Motocicleta. A premiação abriu novas portas para a possibilidade de intercâmbio musical entre artistas brasileiros, uruguaios e argentinos. Essa certa música do sul vem sendo chamada de “templadismo”, nome criado por Daniel (na foto à direita), que, como médico otorrinolaringologista, atende os principais músicos uruguaios, entre eles Jaim Ross, Fernando Cabrera, Antonio Fattoruso e integrantes de bandas como No te va gustar e La Trampa. Desse contato, nasceram muitas parcerias.

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=pgrebW35hag&feature=related


Ana Prada

Cantora e compositora uruguaia, Ana Prada também tem um trabalho voltado para as raízes culturais de seu país. No seu primeiro disco solo, “Soy sola”, lançado em 2007, os ritmos folclóricos do Prata estão presentes em uma mistura com influências da música mundial, como o rock. Integrante do quarteto vocal feminino La otra, já trabalhou com ícones da música popular uruguaia, como Fernando Cabrera e Rubén Rada. Juntamente com Daniel Drexler, Vitor Ramil, Marcelo Delacroix, Ana tem viajado para mostrar o espetáculo SinFronteras.

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=JI-oJBYtfQU&feature=related


Kevin Johansen

Criado na Argentina desde os 12 anos de idade, Kevin Johansen começou sua carreira musical em bandas de rock locais, como a Instrución Cívica. Entre 1990 e 2000, morou em Nova Iorque, onde tocava em bares de música latina. Após o regresso à Argentina, gravou quatro discos fortemente marcados pela mistura de ritmos latino-americanos e pelo bilingüismo, uma mistura constate entre inglês e castelhano. Kevin é um dos principais promotores da integração entre brasileiros, argentinos e uruguaios.

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=7k-wWOdPiCM


Marcelo Delacroix

Músico, cantor, compositor, produtor, arranjador e educador musical. Esse é Marcelo Delacroix. Formado em música pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), ele traz em seu currículo dois Prêmios Açorianos de Música de Melhor Disco de MPB e um de Melhor Disco do Ano. Suas trilhas para teatro e espetáculos de dança também já lhe renderam muitas premiações e/ou indicações. Seu trabalho tem grande influência dos ritmos e paisagens platinas.

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=ynJGGKE7NrM


Surdomundo Imposible Orchestra

Nascido da iniciativa do compositor gaúcho Arthur de Faria e do produtor argentino Carlos Villalba, o grupo Surdomundo Imposible Orchestra é um dos mais claros exemplos desse movimento de integração entre a música gaúcha e a de seus vizinhos platinos. Durante dois anos, os idealizadores do projeto tentaram conciliar as agendas de sete artistas vindos daquele que se convencionou chamar “Sur Del Mundo”, mas só em 2010 o primeiro encontro de fato aconteceu. A partir de então, formou-se a banda, que conta com nomes importantes de grupos famosos da região, como Los Shakers e a Orquestra Típica Fernandez Fierro, além de consagrados artistas de carreira solo, como Martín Buscaglia. Também fazem parte do grupo Ignacio Varchausky (Argentina), Mauricio Pereira, Caito Marcondes e o próprio Arthur de Faria.

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=sDc_ULYDVFM&feature=related

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