sexta-feira, 14 de maio de 2010

Multimídia - Entrevista

A situação do Povo Guarani Kaiowá entrou em foco durante na última semana devido ao julgamento da morte do cacique Marco Veron, com sede em São Paulo. O Cacique foi assasinado em 2003 por quatro homens armados que abriram fogo contra líderes indigenas do Mato Grosso do Sul. Tinha na época 72 anos.
O estado tem uma longa história de atritos entre povos indigenas e grandes latifundiários. Guaranis os acusam de invadir suas terras e perseguir suas lideranças.
Conversamos com um representante dos Guaranis Kaiowás que nos contou um pouco sobre a situação de seu povo, a briga com os latifundiários e o resultado da visita a São Paulo.

Vocês, os Guarani Kaiowá, vivem em áreas demarcadas?
Não. Vivemos em áreas tradicionalmente indígenas, onde nossos antepassados viveram, onde contruiram suas casas e onde morreram.

Existem muitos latifúndios na região?

Sim, muitos. Temos empresas de canaviais, de soja, e há também a hidrelétrica aqui no Mato Grosso do Sul.

E os latifundiários estão ameaçando a integridade de suas terras?
Estão. Tem muita terra de canavial dentro das nossas áreas tradicionais.



Não há nada que impessa que os latifúndiários invadam? Eles invadem apenas e fica por isso mesmo?

Fica por isso mesmo! Mas nós agora estamos requerendo o retorno das nossas áreas tradicionais, por que elas são nossas mesmo. Os fazendeiros tomaram nossas terras. Há muitas familias indigenas para áreas muito pequenas. Por exemplo em Dourado há 3.300 equitares para 12 mil em populção indígena dentro da Aldeia.



E como é o posicionamento da Funai?

A Funai, agora, está correndo atrás disso, ao nosso lado!

Como é a vida dentro da aldeia? Há acesso a sanieamento básico e eletricidade?Nas reservas mais antigas, desde 1840 até 1971, já temos infra-estrutura. Mas o problema é que a área é muito pequena.


Há acesso a educação?

Sim, a educação está muito boa. A secretária está trabalhando bem, há escolas nas aldeias. A nossa maior preocupação agora é mesmo o problema da terra. Com o fim do mandato do Lula, não sabemos como as coisas irão ficar. Durante os 8 anos de governo ele nos prometeu muito, mas pouco saiu na pratica.


Como foi a visita a São Paulo? Houve algum progresso?

Conseguimos uma coisa que nunca conseguimos aqui dentro do Mato Grosso do Sul, o que foi muito bom. Fomos a São Paulo para o julgamento da morte de Marco Verón um grande líder indigena do Mato Grosso do Sul que seria no dia 3 de maio, mas foi adiado para o ano que vem. O Juri e os Embargadores não permitiram que testemunhassemos em Tupi-Guarani. Mas acontece que a mulher do finado não sabia falar o português, apenas o Guarani. Reclamamos ao Ministério Público, eles não podem cortar nossa língua, se o fizerem, cortam também a nossa história. Nossa língua já vem junto da terra do Brasil. Nós somos os maiores brasileiros, somos o povo brasileiro. Não podem fazer isso conosco. Agora vamos discutir junto das lideranças, do cacique, vamos discutir o que houve, por que isso não pode acontecer.

Casos de violência como o que culminou na morte do cacique Marco Veron em 2003 são frequentes?
A violência no Mato Grosso do Sul é muito grande. Há muita perseguição, existem pistoleiros andando atrás de lideranças e caciques. Porque aqui todos são contra a demarcação das terras do povo indígena, tanto a população quanto o estado. Então, acontece que o governo do estado defende o fazendeiro. Aí vem a Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul) e começa a trabalhar contra nós. Quando morre um índio, fica por isso mesmo. Mas é bom que saibam, pode gravar, pode fazer reportagem e divulgar na internet, depois da visita a São Paulo criamos um documento em que a policia federal firma um compromisso com os indigenas. Caso algum índio morra, seja atropelado por um carro, ou morto por um pistoleiro, o próprio delegado da policia federal vai ter de arcar com as consequências. O documento foi passado no Ministério Público de São Paulo e no Ministério da União. Fiquem preparados, por que vamos proteger o nosso povo.
No Mato Grosso do Sul há mais de 40 mil Guaranis Kaiowá, estamos nos mobilizando e vamos retomar nossas áreas.


A Famasul, em seu portal na internet, considera as acusações de cultivo de cana-de-açúcar em terras indigenas improcedentes e sem fundamentação jurídica.

O Julgamento da morte de Marco Veron foi adiado para o dia 2 de Fevereiro de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário