quinta-feira, 1 de abril de 2010

Nova tentativa de União na América Latina

"O Ideal de Bolívar, de uma América unida, continua vivo e está mais vivo do que nunca" Felipe Calderón, presidente mexicano.

"Podemos dizer que o sonho de Simom Bolívar foi realizado" Hugo Chávez, presidente venezuelano.

"Fato histórico de grande dimensão". Luiz Inácio Lula da Silva, presidente brasileiro.

Trinta e um líderes de estado e governo reunidos, todos trajando guayaberas, traje tradicional mexicano, se reuniram em Cancún no último dia 28 de Fevereiro para trazer a vida um novo órgão de "união" das nações latino-americanas.


A recém-criada Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) tem por objetivos promover a igualdade e a inclusão social no continente. Conta com a participação de todos os estados latinos (exceto Honduras, cujo governo instituído por meio de golpe militar no ano passado ainda não foi reconhecido pela maioria das nações americanas). Estados Unidos e Canadá ficaram de fora do tratado.

A Celac é apontada por muitos como a futura substituta da OEA (Organização dos Estados Americanos) acusada de ineficácia em promover a negociação e mediação de crises políticas. Seu papel no episódio do bombardeio de acampamentos das Farcs por tropas Colombianas em 2008, por exemplo, foi quase nulo.

O Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chegou a afirmar que a OEA seria um "corpo enterrado". A organização é acusada pelo governante de promover os interesses norte-americanos no continente.

Para o Bacharel em Relações Internacionais, Dr. Pedro Dallari, a Celac deveria unir os estados, criar consensos dentro da própria OEA, não substitui-la. Considera, ainda, que as afirmações de Chavéz foram precipitadas. De acordo com ele a OEA tem apresentado uma grande evolução, especialmente durante o mandato do chileno José Miguel Insulza. "Temos ouvido falar na organização mais do que nunca".

Sobre a influência norte-americana, Dallari diz que os Estados Unidos tem mantido uma postura de hegemonia sobre a América desde a famosa doutrina Monroe (América para os americanos) mas que sua influência já não é mais a mesma. O próprio Brasil desfruta agora de uma grande representatividade, inclusive foi convidado a gerir a organização.

Ao contrário da OEA, a Celac ainda não passa de um calhamaço de 88 páginas que em nada descreve o funcionamento e os meios de atuação do organismo. Estes quesitos foram programados para serem discutidos durante nova reunião marcada apenas para Julho de 2011.

A criação da comunidade foi apontada como puramente ideológica e uma clara provocação aos Estado Unidos. Remete a ideais centenários de criação de um único estado latino livre da influência saxônia, o que parece improvável. O México, por exemplo, ainda se mantém ligado à Nafta, aliança comercial com Canadá e EUA, e cerca de 90% de sua economia é dependente do vizinho do norte.

Também foram ignoradas as rivalidades entre as próprias nações latinas. Os atritos entre e Colômbia e Venezuela e o eterno conflito entre Uruguai e Argentina são apenas exemplos de disparidades na região. "Mal estamos conseguindo implementar a Unasul, restrita à América do Sul, uma unidade geopolítica clara", observa o cientista político Ricardo Sennes em depoimento ao jornal "O Estado de São Paulo". "Imagine uma instituição latino-americana. Qual seria sua identidade?"

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