Muito se discute sobre quais as origens do socialismo no Brasil, enquanto movimento revolucionário, sua repercussão na política e sua visibilidade na atualidade. Célio José Losnak, professor de História do Brasil da UNESP, conversou com o Pero No Mucho, analisou, e respondeu algumas perguntas sobre esse assunto.
Qual o inicio do socialismo (ideias anticapitalistas, revolucionárias) na política brasileira?
O primeiro movimento que se pode chamar de esquerda ou de oposição a sociedade capitalista ocorrido no Brasil foram os anarquistas. Em São Paulo e no Rio, mas principalmente em São Paulo que era mais industrializado. Até os anos de 1930, o movimento mais organizado, com mais força, dentre os trabalhadores e até nos sindicatos eram os anarquistas. Já tinha o socialismo, os socialistas, porque não eram comunistas, mas não era um grupo muito importante. E em 1921 é criado o partido comunista. Gradativamente, o partido comunista vai ocupando espaço nos sindicatos e dentre a classe operária, assim, a partir da década de 30, a principal linha de esquerda, atuante entre os trabalhadores é o comunismo.
E esse início do comunismo, pode-se dizer que surgiu com Prestes?
Quando Prestes faz a chamada Coluna Prestes, na década de 20, ele não é de esquerda, não era Marxista. Então ele entra pro PC (Partido Comunista) depois de 30, e é ai que ele incorpora o ideário comunista e que este finalmente entra em vigor.
E por que o comunismo antes não tinha tanta adesão quanto o anarquismo?
Difícil dizer por que tais correntes prevaleceram sobre as outras. Mas uma explicação seria porque havia uma predominância de italianos na classe operária; a maior parte dos trabalhadores fabris urbanos em São Paulo era de italianos e o anarquismo era uma corrente forte na Itália. Então teria sido predominante por isso. Nas primeiras décadas, essas pessoas já vinham com esse ideário, se organizavam e o movimento cresceu. Então o movimento anarquista tinha escolas, tinham os clubes sociais, os quais eles faziam festas, excursões, atividades literárias... Essa seria uma possível explicação. Com a criação do PC, gradativamente o comunismo foi conseguindo espaço político e então os anarquistas saíram de cena.
Por que o socialismo não avançou como as outras correntes?
As correntes de esquerda foram fortes, tinham representatividade, visibilidade, até fim dos anos 70, inicio dos anos 80, principalmente no movimento estudantil. Mas, os anos 80 simbolizam uma mudança na política mundial e na forma de ver o mundo. Então se diz que é um período que acabaram as grandes utopias, acabaram as grandes explicações sobre a história, sobre a sociedade que pressupunham a ideia da construção de um novo futuro. Tudo isso acabou. Então as ideias de transformação social, das pessoas se dedicaram à revolução ou à transformação da sociedade, o movimento político entre os estudantes, tudo isso foi definhando, pois esse ideário foi se sobrepondo ao novo, que é a ideia da valorização do presente, na ênfase do individuo, na ênfase do prazer do individuo no presente, da maior aceitação dos valores do capitalismo. Embora movimentos organizados, ONGs de esquerda ou não capitalistas existam até hoje, mas com pouca visibilidade. A ideia hoje é de que a sociedade não muda, que o capitalismo é natural, que o consumo é natural e que prevalece sobre as outras ideologias.
Apesar da visível hegemonia capitalista, a frente socialista continua sua luta. Não se pode dizer que há governos socialistas, mas como na Venezuela, há governos com tendências anticapitalistas. Já no Brasil, o neoliberalismo foi amenizado pelo presidente Lula, que não chega a ser um presidente de esqueda extrema.
Há quem culpe o capitalismo pela destruição de florestas e o aumento da pobreza no continente, há quem diga que o capitalismo apenas supriu os interesses dos nossos governantes.
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